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Profissionais de saúde fazem apelo à população. ‘Nos ajudem. Tenham mais empatia, respeitem o isolamento’

Crescem postagens com depoimentos de trabalhadores da linha de frente ante a trágica realidade da covid nos hospitais. “Não é fácil dar notícia para um pai e uma mãe de que perderam um filho redebrasilatual.com.br Equipe médica da Santa Casa de Sorocaba fazem oração antes de começar turno de trabalho. Abandono das regras básicas de […]
Por Elcione Pereira domingo, 28 de março de 2021 | 03h39m

Crescem postagens com depoimentos de trabalhadores da linha de frente ante a trágica realidade da covid nos hospitais. “Não é fácil dar notícia para um pai e uma mãe de que perderam um filho

redebrasilatual.com.br

Equipe médica da Santa Casa de Sorocaba fazem oração antes de começar turno de trabalho. Abandono das regras básicas de isolamento e cuidados pessoais levaram Brasil ao agravamento da covid e milhares de mortos a cada dia

São Paulo – “Eu fui internada com covid, fiquei três dias em ala. Fui piorando, não conseguia respirar e fui para a UTI. Na noite que me falaram que eu seria intubada, entrei em desespero (…) Eu pensava nas minhas filhas, na minha família. Não vou ver minha filha se formar, não vou ver mais meu marido, minha casa. Não vou ver mais ninguém. Achei que nunca mais fosse sair daquela situação.” Diferentemente da maioria que passa por intubação para tratar a infecção causada pelo novo coronavírus, ela conseguiu se recuperar.

Depoimentos de profissionais médicos e de enfermagem têm se multiplicado nas redes sociais, diante do cenário cada vez mais catastrófico da pandemia no país. Não são apenas números, mas pessoas reais, dedicadas e vivendo há meses com a sensibilidade no limite. Além da experiência de ter passado pela infecção respiratória, os trabalhadores na linha de frente do combate à doença também descrevem exaustão física e psicológica.

Colapsos

O Brasil vive o pior momento da covid-19 desde o início do surto, em março de 2020. Nesta sexta-feira (26) foram registradas a morte de 3.650 pessoas em um único período de 24 horas – cinco brasileiros mortos a cada dois minutos. No dia 22 de janeiro, a média diária de óbitos chegou na casa de mil. Já são mais de 307 mil vidas ceifadas pelo vírus no Brasil, sem contar com a ampla subnotificação, reconhecida até pelo governo desastroso de Jair Bolsonaro.

Por seu lado, cientistas, profissionais da saúde, entidades ligadas à gestão da saúde pública e outros, apelam há meses por políticas de governo que promovam isolamento social com garantia de renda mínima a todos, por meio de um auxílio emergencial digno e justo aos que precisam.

A maior crise sanitária e hospitalar da história do Brasil deixa o sistema de saúde em colapso e seus profissionais, de joelhos. Em todas as regiões do Brasil faltam leitos para pacientes graves. Também já começam a faltar insumos básicos, como anestésicos e demais medicamentos para intubação. Até mesmo oxigênio hospitalar deverá faltar em poucos dias. Como resultado, cresce o número de pessoas morrendo à espera de uma vaga em hospital, sem sequer conseguir atenção médica adequada. Sofrimentos, histórias, planos e sonhos interrompidos pelo luto das famílias que os números oficiais da pandemia não traduzem.

Confira alguns destes relatos

Tânia Alves, técnica de enfermagem do Hospital das Clínicas de Marília

“Eu entrei no hospital e não vi ninguém da minha família. A partir do momento em que você entra, você não vê mais sua família. Como é um setor que você não vai poder ficar com acompanhante, tudo quem faz é o técnico. A partir do momento em que você pisa no hospital e é internado com covid, você vai ver sua família só quando você sair. Se você sair.”


Luiz Felipe Pires, médico do Hospital Regional de Presidente Prudente

“Peço a todos, encarecidamente, que nos ajudem. Tenham mais empatia, amor ao próximo, respeitem as medidas de isolamento. Não é fácil. Não é fácil dar notícia para um pai e uma mãe que eles perderam um filho. Tivemos recentemente no nosso hospital o óbito de um rapaz de 29 anos, mais jovem do que eu, com um filho de três anos, da idade do meu. Na mesma noite, meus sogros me contaram que meu filho, em uma brincadeira, jogou uma moeda no lago do condomínio onde moro. E o pedido dele foi para que tivesse a mim e minha esposa de volta pra casa o mais rápido possível. O filho desse paciente não vai ter isso. Nos ajudem”