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Pandemia acentuou desigualdade entre brancos e negros no mercado de trabalho

Segundo estudo do Dieese, de 11 milhões de postos de trabalho fechados na primeira metade do ano, 8 milhões eram de negros ou negras São Paulo – “Homens e mulheres negros, ocupados em situação de informalidade, no trabalho doméstico e sem vínculo legal, foram os que mais sofreram os efeitos da parada da economia brasileira […]
Por Elcione Pereira sexta-feira, 20 de novembro de 2020 | 10h44m

Segundo estudo do Dieese, de 11 milhões de postos de trabalho fechados na primeira metade do ano, 8 milhões eram de negros ou negras

São Paulo – “Homens e mulheres negros, ocupados em situação de informalidade, no trabalho doméstico e sem vínculo legal, foram os que mais sofreram os efeitos da parada da economia brasileira por causa do coronavírus”, diz o Dieese em estudo relativo ao Dia da Consciência Negra. Segundo o instituto, a pandemia acentuou uma relação historicamente desigual. “Negros e negras enfrentam mais obstáculos para conseguir uma colocação, ganham menos e têm frequentemente inserção vulnerável e frágil.”

Dos 8 milhões de pessoas que perderam o emprego entre o primeiro e o segundo trimestre, por exemplo, 6,3 milhões eram negros e negras – 71% do total. No mesmo período, mais de 6, 4 milhões saíram da força de trabalho. Ou seja, “perderam ou deixaram de procurar emprego por acreditar não ser possível conseguir nova colocação”. Entre os brancos, o número de pessoas nessa situação chegou a 2,4 milhões, aponta o Dieese.

Negros, maior procura de trabalho

Mesmo entre o último trimestre de 2019 e o primeiro deste ano foi possível perceber crescimento da taxa de desemprego. É o momento em que terminam os trabalhos temporários e as pessoas saem à procura de novas oportunidades. Mas para homens negros essa taxa vai de 11,8% para 14%, enquanto para não negros sobe bem menos, de 8,5% para 9,5%. Para mulheres negras, de 17,3% para 18,2%.

Nos primeiros dois trimestres de 2020, o país perdeu 11,2 milhões de ocupados. Destes, 4,5 milhões eram negros e 3,6 milhões, negras. Os dados usados pelo Dieese são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE.

Desses mais de 11 milhões de ocupados que perderam o posto de trabalho, 31,4% tinham carteira assinada, 28,7% não possuíam carteira e eram assalariados, 25,8% trabalhavam por conta própria e 11,4% eram trabalhadoras domésticas sem carteira. “Foram os homens negros com carteira (1,4 milhão), sem carteira (1,4 milhão) e os que trabalhavam por conta própria (1,2 milhão) que perderam as ocupações na pandemia”, aponta o Dieese. A situação se repete entre as mulheres negras: menos 887 mil trabalhadoras com carteira, 620 mil sem carteira, 886 mil trabalhadoras domésticas e 875 mil por conta própria.

À míngua

“Importante lembrar que muitos consideraram as trabalhadoras domésticas como vetores de transmissão da covid-19, pelo fato de elas utilizarem transporte público”, observa ainda o instituto. “Um grande número de contratos de trabalho foi finalizado por esse motivo, deixando à míngua mulheres de baixa renda e escolaridade.”

Essa diferença também se observa na chamada subutilização, que inclui pessoas que gostariam de trabalhar mais. Entre os homens, a taxa foi de 9,5% para não negros e 14% para negros no segundo trimestre. No caso das mulheres, 11,3% e 18,2%, respectivamente.

Sem renda e sem trabalho

Um dado a princípio positivo refere-se ao rendimento, que entre o quarto trimestre de 2019 e o segundo de 2020 aumentou – em todos os casos. Mas o Dieese lembra que aqueles com “inserções mais frágeis e informais” perderam seu trabalho. “Ou seja, os que tinham menor rendimento perderam as ocupações, enquanto aqueles que ganhavam mais permaneceram ocupados e com salário.”

O rendimento médio dos ocupados era de R$ 2.426 no segundo trimestre. Homens não negros ganhavam R$ 3.484, enquanto os negros recebiam R$ 1.950 – diferença de 79% no mercado de trabalho. As mulheres negras menos ainda, R$ 1.573, ante R$ 2.660 das demais (69%).

“A mobilização do movimento sindical conseguiu proteger parte significativa dos empregos dos assalariados com carteira, com a Medida Provisória 936, mesmo com a redução de salário, mas cerca de 8 milhões de pessoas, a maioria negra, ficaram sem trabalho e sem renda”, conclui o Dieese, destacando também o auxílio emergencial. Muitos, no entanto, não receberam ou sofreram com atraso no pagamento. “Para esses brasileiros, pobres, afastados dos direitos garantidos em lei pelo emprego protegido, coube escolher entre a fome ou ir para rua buscar trabalho mesmo com a possibilidade de encontrar o vírus.”

Em São Paulo

Estudo da Fundação Seade reforça: também no estado de São Paulo, a pandemia atingiu ainda mais a população negra. Apenas no segundo trimestre, a ocupação caiu 15,9% entre os negros (menos 1,4 milhão) e 7,1% entre não negros (949 mil).

A redução atingiu 762 mil ocupados negros (queda de 15,4%) e 646 mil negras (-16,6%). No outro campo, 453 mil homens não negros (-6,3%) e 496 mil não negras (-8%).

Confirmando a informação sobre os mais vulneráveis, a redução de ocupações foi de 12,4% entre os negros que contribuíam para a previdência e de 23,5% entre os que não contribuíam. A taxa de desemprego no segundo trimestre foi de 17,1% para os negros e de 11,3% para os demais.